Ainda não sabe

Diogo Mendonça
3 min readJan 13, 2022

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Pegou os post-its, escreveu suas metas para o ano novo, colou na parede do escritório e postou todas elas no stories do Instagram. Muita ambição, muito autocuidado e muitos sonhos.

É bem verdade que algumas das metas estavam encaminhadas. Fazia terapia há dois anos e a reeducação alimentar já estava em sua vida há pelo menos nove meses. Evoluir os cuidados com o corpo e a mente seriam um passo natural.

Prometeu ler, assistir, escrever e criar como nunca. Prometeu meditar e terminar o ano com um tanquinho definido. Prometeu planejar uma grande viagem sozinho para o ano seguinte. Prometeu beber mais água. Prometeu como se o mundo girasse ao seu redor e nada pudesse pará-lo.

Mas calma lá, também não era um louco inconsequente. As promessas tinham condicionais. Dependiam da pandemia, da economia e do que fosse possível fazer no momento. Naquele ponto ele já sabia que otimismo demais não daria certo, mas pessimismo também não levaria ninguém pra frente

2021 passou, hora de fazer o balanço.

Os posts-its não estavam mais na parede, foram colados na janela do novo escritório. Teve que mudar de casa no pior momento da pandemia e recomeçar o ano antes mesmo dele chegar na metade.

Não leu os 10 livros e nem chegou perto de assistir 100 filmes. Até escreveu e criou coisas novas, conheceu mais gente da sua área de trabalho e engatou projetos importantes.

Não estudou e nem fez investimentos financeiros de longo prazo. A vida exigiu aplicações rápidas e o termo “reserva de emergência” fez mais sentido do que nunca.

Falhou miseravelmente em beber mais água. Por outro lado, os vinhos… Jesus ficaria orgulhoso.

Continuou cuidando bem da alimentação e finalmente abraçou uma rotina de exercícios. O tanquinho ainda não ficou pronto, mas terminou o ano jurando que a base da construção tá sólida.

E apesar da vida fitness, está na dúvida se o músculo mais trabalhado no ano que passou foi o cérebro ou o coração, pois tem certeza que foi ao mesmo tempo o maior orgulho e a maior decepção da sua terapeuta. Tem até uma leve desconfiança de que ao invés de competir, esses músculos acabaram fazendo uma ótima dupla. Ficou de levar esse questionamento pra terapia.

Não planejou uma viagem sozinho para o primeiro semestre do ano seguinte. Mas, em compensação, viajou muito bem acompanhado e guiado mais pelos sentimentos do que por números ou roteiros turísticos. Voltou com a certeza de que fez uma das melhores viagens da sua vida.

Ainda não traçou metas para 2022, apesar de saber que vai continuar cuidando da alimentação, da saúde física e mental e que vai sim beber mais água.

Depois de tudo o que viveu, anda se perguntando qual tom essas metas devem ter ou até se deveria substituir o termo “metas” por “planos”. Planejamento é algo mais prático e metas podem acabar sendo só idealizações. Mas aí ele lembra que as coisas mais importantes do último ano não passaram nem perto de ser planejadas, tiveram que ser resolvidas com a cara e a coragem.

Talvez seja o momento de explorar com mais cuidado esse negócio chamado de “presente”. Parar um pouco de pensar no que poderia ter sido e no que pode vir a ser pra aproveitar o que está acontecendo agora.

Ainda não sabe. Certeza mesmo é só a de que precisa beber mais água.

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