Como a composição e a montagem controlam seu olhar no clipe de “Envolver” da Anitta.

Diogo Mendonça
2 min readAug 29, 2022

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Chamei o VAR pra gente ver o detalhe da jogada.

Desde a primeira vez que assisti o clipe de “Envolver” a montagem chamou minha atenção, então vamos aproveitar que a Anitta levou o VMA de melhor clipe de música latina pra entender porque essa obra é tudo isso aí mesmo.

Chamei o VAR pra ajudar a gente.

Primeiro queria destacar que não descobri quem fez a fotografia e a montagem do clipe, mas essa dupla fez um trabalho incrível. E como a própria Anitta fez a direção, o time tava muito entrosado.

Tudo gira em torno da coreografia e, a partir daí, fica fácil ver as decisões sendo tomadas. A câmera e os cortes acompanham os movimentos, a ideia é que seu campo de visão esteja sempre perto da ação entre um take e outro e “Envolver” é brilhante nisso.

Um dos trabalhos do montador(a)/editor(a) é garantir que você não vá ficar desorientado assistindo um filme, série ou clipe e é fácil demais perder a mão nesse objetivo, ainda mais em tempos de conteúdos remixados, acelerados e “TikTokizados”. O caminho mais fácil seria embalar tudo com uma linguagem “moderna” e frenética, mas o objetivo da música é provocar e isso foi respeitado.

E nem de longe é um clipe lento ou sem cortes, os momentos de refrão são os mais frenéticos e, ainda assim, você não se perde. É só notar em como a ação é levada pro centro da tela nessas horas. Quando a atenção se desloca nunca é pra muito longe e sempre tem algum elemento orientando seu olhar. Aos 44s a transição do rosto pro movimento da mão é matadora.

Meu momento favorito? Aos 1:23, quando o detalhe do movimento da Anitta joga o olhar da gente exatamente pra onde ela vai estar no take seguinte. Fino.

Pra além dos outros atributos envolvidos, o fato é que você não consegue parar de olhar pra tela e muito mérito disso é da fotografia e da montagem, que traduzem muito bem a sedução que tá em jogo. Gosto porque é um clipe mais “simples” se comparado com outras produções dela. É um ótimo exemplo de como menos é mais.

E gosto mesmo porque seria fácil demais tirar méritos artísticos da Anitta por preconceitos musicais, mas ela tá aí cada vez mais entregando obras extremamente bem produzidas e refinadas, mesmo sendo pra algo extremamente pop.

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