Curb Your Enthusiasm

Diogo Mendonça
3 min readAug 28, 2021

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Egoísta, inconveniente, desagradável, chato, mesquinho, escandaloso e estúpido, mas acima de tudo, pertinente.

O Larry David da série Curb Your Enthusiasm (Segura a Onda — HBO) carrega vários outros adjetivos não agradáveis, mas só com esses podemos ter uma ideia do personagem que um dos criadores de Seinfeld encarna. E se George Constanza é uma caricatura do verdadeiro Larry David, o LD de Curb é a sua versão extrema.

A ideia aqui não é fazer uma critica da série, que ao longo de 10 temporadas espalhadas por 20 anos, pôde abordar temas que surgiram e se desenvolveram nessas duas décadas. Vale dizer que assisti esses 100 episódios ao longo dos últimos dois meses, uma verdadeira overdose de situações constrangedoras.

Não tem convenção social que sobreviva ao seu ego. Invadir um funeral e pedir um favor a um gerente que está enterrando sua tia? Sem problemas. Reclamar do sabor da água num jantar na casa da nova namorada de um amigo? É pra já! Perguntar a um casal interracial se eles têm preferência na cor da pele da criança que esperam? Coisa boba.

Simplesmente não existe um filtro ou um alerta de bom senso.

A única preocupação de Larry é não ficar abaixo de ninguém. Levar desaforo pra casa não é uma opção! Todos os episódios são um verdadeiro jogo de gato e rato onde nosso protagonista quer impor a sua régua de moralidade e convivência.

Algumas situações são extremamente desagradáveis, de causar contorção e desconforto físico. Ainda assim é inevitável acompanhar. É o acidente de carro, simplesmente não conseguimos evitar olhar.

Mas é fácil entender porquê continuamos. No fundo, lá no fundo, encontramos ressonância em alguns absurdos que Larry solta. Perguntas que fazemos lá no íntimo da nossa mente e que as amarras sociais nos impedem de questionar.

A série nos ajuda a ter empatia por LD mesmo nas situações surreais, pois em muitas ocasiões ele reage a pessoas tentando tirar vantagem das convenções sociais. O que no dia a dia deixaríamos passar pra evitar algum constrangimento, mentindo pra nós mesmos que não é tão importante assim, para ele é uma questão de honra.

E um grande paradoxo é que, no fundo, tudo gira em torno da necessidade de aceitação, seja ela afetiva ou de ideias. E isso faz com que ele simplesmente não tenha medo de quase ninguém. Não existem amigos ou parentes quando a missão é apenas uma: provar que está certo.

Ele quer o que é melhor para si . E ele não está errado.

Tudo isso só funciona porque as consequências existem. Se ele saísse impune de todas as roubadas seria apenas um show de agressões gratuitas, o que funcionaria por alguns episódios mas não nos manteria presos por uma jornada de duas décadas. Os personagens evoluem e isso está longe de dizer que eles melhoram como humanos.

Cada conflito resolvido leva a outro dilema de complexidade ainda maior, o que traz outros confrontos e rompimentos. A aposta é sempre dobrada.

E eis que quando já estava ficando triste por encarar a realidade de que tinha apenas mais dois episódios inéditos para assistir, me deparei com o tweet abaixo.

“Você tem permissão pra ser feliz, mas não na minha frente”

Pretty Good! Pretty, Pretty, Pretty Good!

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